António Henrique Rodrigues Maximiano
(1946-2008)



NOTAS SOLTAS SOBRE UM HOMEM EXCEPCIONAL, CIDADÃO DO MUNDO
 

 

Continua a ser muito difícil, para mim, falar publicamente do António, Max para os amigos, porque se mantém incólume a dor da sua ausência.

A sua partida brutal, transformou-me numa pessoa mais triste e mais pobre...

António era um Ser Humano de excepção, como “pai”, como marido, companheiro, amigo, como Homem!

Amava a vida, adorava a família, dava a vida, a liberdade, o conforto pelos amigos e por aqueles que respeitava e admirava!

Tinha uma inteligência viva e criativa que sempre colocou à disposição da sua profissão, que muito respeitava, e da família e amigos que adorava.

Tinha uma boa disposição permanente, um humor fino, crítico e perspicaz!

A sua luta era a da defesa dos direitos Humanos. Preocupava-se e buscava em toda a sua vida, pessoal, profissional, social e expressão política, uma justiça de rosto humano, de e para o Ser Humano concreto!

Os seus últimos anos de vida dedicou-os à defesa dos direitos fundamentais do cidadão e prestígio das forças de segurança, que considerava essenciais à concretização de uma sociedade intrinsecamente democrática e de direito.

Pelo comportamento dos seus agentes, que desejava respeitoso, educado, cumpridor dos deveres de cidadania e de autoridade para com os cidadãos, pretendia o prestígio do País, internamente e além fronteiras, alcançar o respeito dos cidadãos para com uma polícia, que queria cada vez mais próxima do colectivo que somos. O seu sonho, e creio que o alcançou, foi alterar o sentimento de “medo” do cidadão para com a polícia pelo de segurança, conforto e confiança.

Que uma criança, um jovem, um cidadão que visse um polícia se sentisse protegido e confiante e não receoso, ou até com medo, era o seu maior anseio, como frequentemente dizia.

         

     

O jovem Max

O cadete Rodrigues Maximiano

Na sua casa, o jovem casal, Cândida Almeida/António Rodrigues Maximiano

 

   

“Ficarei satisfeito quando o velho hábito de se ameaçar com a polícia a criança que se porta mal for substituído pelo conselho, de, se sentir desprotegido ou inseguro, vai ter com o(a) polícia”, repetia.
Hoje, estaria concerteza, feliz porque o seu objectivo de vida e de trabalho se vem alcançando cada vez mais visivelmente.

Como Ser Humano, era de especial elevação.

Reconhecia o mérito dos outros, elogiava-os, crescia com eles! Por isso que uma particular amiga e sua colaboradora dizia que o António conseguia que as pessoas que com ele trabalhavam se sentissem fantásticos e excepcionais no desempenho!

Em casa, conjugava a sua humanidade, a sua sensibilidade, o seu amor pela família, pela Natureza, pelo seu espaço, pela beleza do seu cantinho em Galamares, com uma inteligência superior, prática e disciplinada.

O que era para fazer, era já e não amanhã. Era implacável nessa decisão.
“Amanhã posso esquecer-me ou ser tarde demais”!

Acarinhava uma flor, tratava do seu jardim, perdia-se no gosto pela pintura e leitura tanto quanto era inflexível na denúncia da falta de carácter de uma pessoa.

Frontal, demasiado brutal, por vezes, não perdoava a mentira, a traição, a ambição desmedida e sem princípios, não admitia faltas de carácter e baixeza de procedimentos.

Tanto, quanto admirava, respeitava e elogiava quem era leal, corajoso, lutador e defensor de princípios que entendia iluminar a vida de um Ser Humano.

Solidário, companheiro, sincero, amigo sem limites ou condicionantes! Determinado.

Amante da beleza e da natureza humana.

A pintura, a poesia, a escultura, a verdade, a amizade, o amor, o profissionalismo.

 

 

Cândida Almeida e Rodrigues Maximiano em viagens com a filha,
enquanto criança e já na adolescência

 

 

Era um Homem das grandes decisões, definição e luta pelos objectivos estratégicos que definia, amante da discussão jurídica e descoberta de novas soluções justas e especificamente adequadas ao caso concreto. Sempre determinado e sempre na primeira linha na defesa da Vida, da Família, dos Amigos da transparência, da Verdade!

Um dia um amigo propôs-lhe escrever umas palavras para apresentação de um livro sobre a obra do pintor Luís Ralha. António tinha por este artista excepcional uma admiração e um carinho indescritível. Íamos de férias. Em Espanha, quis, desde logo, anotar os tópicos para a sua reflexão. Onde quer que estivesse, surgiam-lhe os pensamentos, os raciocínios, as decisões, as hipóteses, os juízos. E de uma beleza e profundidade sufocantes! Não escrevia bem! O formalismo da prosa não se compadecia com a sua fulminante e fulgurante imaginação, com a sua particular e excepcional capacidade de fazer brotar do pensamento a ideia certeira e profunda, mas sempre embrulhada numa carícia e ternura, só possível num Ser Humano como ele. Incapaz de ele próprio escrever a sua prosa, ditava-a a mim, aos amigos...

As suas ideias, os seus pensamentos, traduziram sempre a poesia que lhe ia na alma! Até os textos de direito eram impregnados de Humanidade, preocupação com o Ser Humano que erigia como deus do mundo e da vida.

Voltando à introdução da obra de Luís Ralha, em Espanha, em férias, “obrigou-me”, no 2º dia de estadia, a recolher, em papel, tipo “spots”, o seu pensamento e os seus sentimentos sobre o Artista! Fiquei estupefacta pela torrente de palavras que do seu pensamento brotavam, como rio que corria largo e rápido para o mar – foi a imagem que me ocorreu – de uma beleza, de uma força, e simbolismo só possíveis num Homem único, no seu amor, na sua entrega à vida que amava.

Os jovens ouviam-no, procuravam-no, admiravam-no e o António sempre feliz e bem disposto, distribuía-lhes esperança, princípios e valores nas suas conversas envoltas em ternura e carinho. Temas como a História, a Filosofia, a Poesia, a Pintura, os direitos da diferença e das minorias, os princípios e valores universais por que cada um devia lutar eram recorrentes nas suas conversas!

 

 

Numa recepção, o casal Cândida Almeida e António Rodrigues Maximiano

 

Como Ser Humano, obviamente tinha os seus defeitos e cometia erros, mas perante a sua grandeza, dimensão humana, superioridade intelectual e capacidade de amar e ser solidário, posso dizer que o seu defeito maior era não contemporizar, perdoar ou minimizar a mediocridade, a ambição desmedida, a cobardia, as pessoas sem verticalidade e mercantis nos seus princípios e valores.

Então, era quase cruel. Por isso que deixou um rasto enorme de admiração, respeito, amor, amizade e saudade na generalidade de todos quantos o conheciam ou com ele privaram e um pequeno ciclo de gente menor que nunca lhe perdoou a franqueza, e a frontalidade, a sinceridade e a avaliação realista mas radical, com que tratava os assuntos que considerava fundamentais e essenciais a uma vida feliz, aberta, fraterna e humanista.

Adorava a sua profissão de Magistrado Público, que abraçou conscientemente, querendo fazer dela uma referência para o País e desenhar para os seus agentes uma intervenção, iniciativa e imediação que espelhasse um Magistrado Público, como magistratura democrática e autónoma orientada sempre em busca do farol da Liberdade e da Justiça concreta para o Ser Humano concreto.

Envaidecia-se por ter prestado serviço militar na Marinha e orgulhava-se de fazer parte do grupo fundador da AORN que liderou.

 

Gostava de trabalhar em colectivo, com disciplina e objectivos claros e bem definidos.

É inevitável surpreender na forma de estar e actuar, tanto na sua expressão profissional quer na sua vertente privada, uma matriz e influência fundamental que a sua passagem pela Marinha deixou cinzelada indelevelmente nos princípios e valores que sempre o norteou e acompanhou até à sua partida.

A camaradagem, a solidariedade, a lealdade e a coragem que enformaram a vida de António Rodrigues Maximiano são virtudes que (re)colheu e desenvolveu com a sua passagem pela Marinha que sempre honrou, defendeu e de que se orgulhou e envaideceria.

Enfim,

São desajeitadas, insuficientes e anárquicas estas pequenas notas sobre um Ser Humano que tanto amou a vida mas, falta-me o “engenho e arte” para expressar a minha admiração, amor, respeito e saudade por quem tanto me deu.

 

 

Cândida Almeida

 



António Rodrigues Maximiano e a AORN

 

 

Foto do grupo de fundadores da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval, com destaque fotográfico em baixo, à direita, para António Rodrigues Maximiano

 
António Rodrigues Maximiano integrou um grupo de antigos oficiais da Reserva Naval que fundou a AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval, em 14 de Julho de 1995, tendo sido Presidente da Direcção desta associação até Março de 2002.
 
Foi procurador geral adjunto, tendo exercido o cargo de Inspector-Geral da Administração Interna (IGAI), de 1996 a 2005.
 
Pautou a sua acção, por critérios bastante exigentes na actuação das forças policiais. Jubilado em 2005, foi ainda vogal do Conselho Superior do Ministério Público culminando uma carreira brilhante ao serviço da Magistratura.

Dinâmico e emotivo, era dotado de um sentido crítico e inteligência notáveis, conferindo-lhe grande acuidade e acutilância profissionais, qualidades que colocou permanentemente ao serviço da cidadania que defendia, no combate à corrupção.
 
Oficial da Reserva Naval da Marinha de Guerra do 20º CFORN, ingressou na Escola Naval em 1972. Promovido a Oficial no mesmo ano, foi destacado para o Comando Naval de Angola onde desempenhou as funções de Chefe dos Serviços Jurídicos, até Novembro de 1974.

Sob a sua direcção, foi efectuado o levantamento do auto de averiguações em que morreu, em combate, o 2TEN FZ RN António Bernardino Apolónio Piteira.

Entre amigos, que até colaboravam na manutenção e desenvolvimento do seu gosto por gravatas extravagantes, com algumas imitações humorísticas, era familiarmente conhecido por “Max”.
 
Vítima de doença prolongada, faleceu em 16 de Março de 2008 e a Reserva Naval ficou mais pobre por ter perdido um Camarada, um Dirigente e também um Amigo.
 
 

Manuel Lema Santos
8º CEORN

 

© Copyright 2010 - AORN
Associação dos Oficiais da Reserva Naval
Desenvolvido por Manuel Lema Santos

webmaster:
webmaster@reserva-naval.com